sexta-feira, 20 de abril de 2012


“Eu tentei ao máximo me controlar. Eu tentei olhar as cicatrizes e não me odiar. Eu tentei tirar da minha mente o pensamento do sangue escorrendo pela minha pele. Eu tentei afastar de mim a idéia de que o suicídio era a melhor saída. Mas falhei. Eu disse a mim tantas vezes que não faria isso novamente, mas fiz. E fiz de novo. E pra piorar refiz. E refiz milhares de vezes depois. Eu literalmente senti a situação fugir do meu controle. E aquela garota forte que eu prometi ser se escondeu. E eu não consegui achá-la. Eu errei em esconder a dor atrás dos meus sorrisos forjados. Eu falhei em não ter gritado por socorro quando ainda era tempo. Eu falhei por ter me deixado no esquecimento. Eu falhei comigo, eu falhei com todos. Eu destruí cada resquício de esperança que ainda havia em mim. Eu esmigalhei todas as chances que eu tinha para ser feliz. Tudo porque eu já não conseguia mais acreditar que a era a felicidade batendo na minha porta. Sempre que a felicidade se aproximava eu me afastava, duvidava, corria, me escondia dela. Voltar a ser feliz era uma coisa que já não mais constava nos meus tão trágicos planos. Só queria que pelo menos extrair toda a dor que corroia minhas entranhas, que contraia meu estomago, que me fazia minha maquiagem toda ficar borrada. Eu queria ser diferente daquela dor que estava fazendo acumular cicatrizes por todo meu corpo. Já estava cansada de lutar todos os dias contra aquela vontade de sangrar. Maldito primeiro corte. Maldito vício. Era um clico vicioso. A cada lágrima derramada, a cada decepção colecionada, a cada aperto que a dor dava em meu coração, era um rasgo em minha pele. Eu perfurava ela dia após dias. Enquanto eu sangrava, eu sorria. Por mais irônico que possa parecer, era o único momento em que eu me sentia totalmente livre daquilo que vinha me matando de dentro pra fora. Depois do alivio sempre veio o ódio juntamente coma culpa. Ódio por ter fraquejado, por não ter conseguido conter o impulso, por ter me machucado novamente. E culpa por ter feito aquilo que vivia prometendo a mim mesma não fazer novamente. Até quando aquilo duraria? Até quando eu seria movida pela dor? A monotonia estava me deixando cansada de continuar tentando sobreviver a tudo. Nostalgia era o que mais compunha a melodia tão melodramática dessa minha tão mesquinha vida. Se bem que há um determinado tempo eu já não sabia o que era viver. Pois morta eu já me encontrava. Estava morta por dentro. E ninguém conseguia notar. E talvez nem se preocupassem em notar. Porque eles não precisam saber também que por debaixo de minhas roupas meu corpo encontrava-se coberto por cicatrizes e cortes grandes, e muitos deles profundos. A última coisa que eu precisava era de um questionamento sobre o porquê de tudo aquilo estar acontecendo comigo. Ou então de mais criticas. Demorei um pouco, mas acabei percebendo que machucar meu corpo era apenas um aquecimento. Que cauterizar veias eram apenas uma brincadeira perto do que eu poderia realmente fazer. Perto da onde a dor podia me levar. Assustei com meus próprios pensamentos a principio. E depois me acostumei a certas idéias. De repente tudo parecia tão certo, tão nítido. E eu soube a inutilidade que estava sendo conter meus impulsos de ir mais além. Afinal tudo o que eu precisava era ir mais além. Não havia mais nada pra mim. Estava tudo acabado. Eu estava perdida e sem chances de ser achada. Estava imensa em uma escuridão que permanecia até mesmo quando eu me encontrava de olhos abertos. Então eu decidi que depois de ter perdido meu tempo virando noites chorando, abrindo minha pele e fingindo ser feliz quando não o era, tudo o que deveria ser feito era acabar definitivamente com essa agonia sem fim que viva dentro de mim. Era acabar com toda a dor que habitava meu ser. Era o que deveria ser feito. Independente do preço que isso me custasse. Então escrevo para que entendam que esse meu ultimo ato, que pra muitos vai parecer um absurdo, foi apenas a solução que encontrei para resolver todos os meus problemas. Entendam que eu quis matar a dor, e que para isso eu tive que matar a mim mesma. Adeus.”
Sabrina

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