“— Vó!
— Oi, garoto. 
— A mamãe não nos ama, não é?
— Não diga isso.
— Ela nos deixou, vó. Sozinhos.
— Senta aqui.
O garoto se senta
— As vezes temos de deixar as pessoas pra trás. E isso não quer dizer que não os amamos, as vezes quer dizer que amamos ainda mais.
— E porque deixam, vó?
— Porque não nos fazem bem. Porque podem nos machucar. Porque elas são bagunçadas e não querem nos bagunçar também, entendeu? Porque, talvez…Não consigam cuidar de nós, como outras pessoas cuidariam. E porque talvez, não nos façam feliz como merecemos. E nem dão o valor certo. Mas isso não é culpa delas, nem nossa. Nem de ninguém. É do tempo. E por mais que as pessoas não queiram, elas mudam, garoto.
— Mas vovó…
— Oi?
— Como sabe que a mamãe me amava de verdade?
— Menino, só de falar de você seus olhos brilhavam.”

Pedro Rocha