terça-feira, 27 de dezembro de 2011


”Sempre foi assim: viver para amar, ao invés de viver de amor. Acordar já amando alguma coisa, mesmo que seja o quanto nossa cama está quente, ou aquele estado de letargia, que, em meu caso, procede o dia todo. E mesmo que no dia todo milhões de furacões, tsunamis, desastres, mortes e surpresas ocorram, por cinco minutos que sejam, vou te amar. Vou querer que tu veja as estrelas do céu da minha boca brilharem pra ti. Vou querer que se arrependa e que volte, de braços abertos. Porque eu, afinal, nunca fechei os meus. Coisa mais clichê, a gente chorar de amor, escrever, deixar passar, ficar confuso… E que mania essa minha de ser singular até nessa história de amor. De coletar um pouquinho de cada romance do mundo pra fazer o nosso. O meu, tão imenso, mas o seu, tão murcho, que tenho de completar com retalhos de amores, talvez, mortos. Aí vira um caso muito difícil de solucionar: amores cruzados no meu peito, de uma dor que parece que nunca mais vai cessar. Já falei tantas línguas , já usei de tantos truques, já fui mágica para te entreter, já fui tua Lua pra tu admirar, já fui médica e te cuidei, já fui eu, e te amei. Em vão? Talvez. Porque todos os gestos que saem do meu corpo ficam soltos no ar. E que acabo tentando apagar o que foi dito e feito no passado para que tu não leia, para que tu não veja. Porque é o medo de um amor tão nocivo e tóxico quanto sinto, que ele acabe por me destruir. Que a incerteza, que sempre foi meu forte, acabe por me enlouquecer. E tu, sempre acabaste à me fazer chorar. Creio que com o tempo as coisas continuem no mesmo pé. Que eu tenha mais à que fazer do que lhe escrever cartas sem remetente e destinário, e que no meu travesseiro haja pensamento em demasia para perder tempo com um amor que nunca esteve em tua rotina. Talvez tu passe de raspão n’uma conversa casual sobre relacionamento com um grupo de cinco amigos, qualquer, banal. Que eu te cite como o passado que sempre vem à tona em diálogos como esse, e que tu sempre foi um absurdo. Sempre foi o modelo todo torto que a palma da minha mão criou. E que não há acordes no violão suficientes para te fazer canção. Que eu repito, meio distorcido, tudo que todo mundo já conhece sobre amor. E a gente só descobre mais, ou pensa que o faz, quando ama também. 
Meu coração já geme de dor, só de pensar no dia de amanhã. Todos os dias eu volto àqueles dias, lembra? Éramos felizes, o máximo que poderíamos ser, e não sabíamos. E cada detalhe bobo, hoje, é uma faca fincada no nosso coração. Cada canção é um dedo na ferida. Cada conversa, vazia, sem sentido, é minha cicatriz que abre, arde, chora. Eu não sabia que era possível sofrer assim. Que quando a gente não chora, não reclama, não vive a dor, só lembra, é uma forma de morrer um pouquinho à cada dia. Sem nem perceber. E é bom que eu deixe registrada a dor, n’uma maneira meio insatisfatória de pôr pra fora o sofrimento, para que meus dias pesem menos na minha coluna. Para que o mundo tenha mais cor, e que o céu azul e o Sol me alegrem ainda mais, como sempre fizeram.
Mas me diz, como vai teu mundo? A gente fez tanto estrago na vida um do outro, e cada semana nossa deve ter um pouquinho de cemitério. A pergunta que não me cala, aqui dentro, é o quanto vale mover um fio de cabelo sequer, por ti. Se vale mesmo nadar tanto, para chegar do outro lado da margem e ver que tu cansou de me esperar. Me deixou remando sozinha, lembra? Então resolvi ir à nado. Sofrer por completo: se for pra ser difícil que seja quase impossível. Deve fazer dois anos, meu bem, que não me permite provar o gosto da surpresa. Uns cinco sorrisos extras que ganhava ao final do dia, com algum gesto ou palavra tua. A delícia que era te amar almejando o futuro, e como tu me fez alguém que não havia sofrido no passado. Obscuro, manchado, aquele passado. E agora tu é, quase que por completo, mais um. E aqui estou, repleta de passados sangrentos, depressivos, com toda a beleza da melancolia. É bonito meu penar. Meu amor por ti é maravilhoso, tão grande, como sou fiel. Será que não vê? E nossa árvore, nunca mais vai dar frutos, como fica? A arquitetura da nossa casa vai ficar só no papel? E aí, meu bem? 
”E agora, que faço eu da vida sem você?”
Eu consigo, sei que consigo. Mas eu não quero, de jeito nenhum, viro a cara pra porta de saída: não abro, não abro. Meu querer passa por cima do poder, e pronto: não posso, não mais. Ouvi dizer que teu pai sente minha falta, e que nem por reza brava tua mãe consegue gravar o nome de tua atual namorada. Será que lembrando nosso dias de glória e de tudo que te dei, tu volta? E é pra ver se você volta que te lembro do sol que entrava pela minha janela, e brilhava junto do meu sorriso. E todas as vezes que eu me levantava da cadeira e ia até a janela, era para agradecer à Deus, a natureza, ou qualquer força maior, por você estar me esperando ainda. E toda minha infância e inocência, toda minha devoção à ti, me fazia tão feliz, como alguém que vive a vida inteira no convento, ou sei lá. Que foi tão precoce, tão bonito. E às vezes penso que se a gente não tivesse lutado, não doeria tanto. Se a gente tivesse deixado pra lá, assim, de cara, já teria esquecido. Em contrapartida, penso que não teria sido real, se eu tivesse ido mesmo, no primeiro adeus. Se tivesse mesmo te excluído da minha vida. 
Porque tu sempre vai, e tu sempre volta. Assim como a saudade. 
Estou em coma, é isso. E tu é o aparelho que me faz respirar. Não seria melhor morrer de uma vez? Talvez o óbito de tua ausência seja ainda maior. Talvez minha alma não seja capaz de encontrar a paz sem ti. Talvez teu olhar sempre seja o caminho mais curto para a felicidade. E aqui, atrás de ti, ou sob ti, escondida, calada, apenas fazendo da poesia meu diário, demorem anos e anos, vidas e reencarnações pra gente se encontrar por aí, em qualquer esquina. Mas prefiro falar de ti como uma história prometida para terminar, no entanto, um novo capítulo sempre estará por vir. Mesmo que todo inventado, mesmo que falando de bolas, de flores, de escovas, de nada. Tem à ver contigo, pode ter certeza que tem. Eu nunca mais soube falar, sequer, sem te citar, mesmo que nas entrelinhas. E se hoje sou alguém, se nessa vida foi alguém, e mesmo que seja ninguém, qualquer coisa aqui te pertence. Tu vê o quanto sou boba, o quanto prolongo os parágrafos pra ver se neles estão revelados nossos segredos - ninguém nos conhece. Acabo, então, morrendo na praia. Falando sobre tudo, e não dizendo nada. Talvez deva ser assim mesmo, pra todo mundo se deliciar com nossa desgraça: que vejam um amor debaixo dos escombros, e uma menina que está presa nas ferragens, enquanto você, já comprou uns cinco carros novos. Deixa, deixa que pensem, que falem… Faz bem a gente compensar nossa ausência de felicidade na tristeza dos outros. Mas saibam, que estou feliz. Que ao decorrer do que narro, luzinhas alternadas piscam na minha alma. Faíscas de esperança. Que ameaçam, mas nunca queimam. Que só a morte física pode matar. Que eu volto àquela noite de Dezembro todos os dias, e por lá vou adormecer, durante a semana. Vou rever tudo, e chorar um bocado. Vou desmontar para que todo dia vinte e sete, e aliás, todo dia do mês, eu renasça de novo. Nos pequenos frascos, residem os melhores perfumes. E nesse meu pequeno corpo, está o maior dos amores. E nosso aniversário de morte é o mais bonito do mundo.” Vitória D.


 #chorei.

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