— | Rafaela Marques |
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
“Então finge, garota. Finge que não sente, que não
vê. Finge que está tudo bem. Pode fingir, pode agir como se nada
afetasse. Finge que a verdade não dói, que as coisas não machucam, que
as palavres não ferem. Finge que o buraco cicatrizou, que as pessoas
sabem curar, finge que se acostumou com tudo, que mudou. E tarde da
noite, quando deitar na cama, chora tudo. Tudo o que pode, que consegue,
que quer. Mas enquanto não cai a noite, finge que não se importa. Que
as feridas recentes não atrapalham, que falar sem pensar não é
consequência. Finge que o mundo não gira, que a vida não corre. Finge
que nada mais vai te afetar, que ninguém mais vai conseguir atrapalhar.
Finge. É melhor fingir, garota. As pessoas preferem assim, as dores
encaixam no tempo, se acostumam com tamanha falta de verdade; com o
excesso da mentira. Finge. Age como as pessoas querem. Age como se nada
acontecesse. A verdade mesmo é que não querem saber como estão e sim
como vai evitar machucar os demais. E não importa o quão ferida estejas,
garota. Simplesmente finja. Finja que é forte o suficiente, mesmo que
não seja.”
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