sexta-feira, 17 de agosto de 2012


“Eu tinha uns 8 anos, tava assistindo tevê no quarto dos meus pais, ouvi um barulho no banheiro, como se fosse um tiro, corri lá pra ver o que era e vi a pior cena da minha vida. No velório chorei como nunca havia antes, minha mãe não derramava uma lágrima sequer e meu irmão tava sumido a quase três meses. Uma semana depois do velório do meu pai, vi minha mãe nua com uma mulher encima do balcão do banheiro. Passaram se algumas semanas, eu vi meu irmão na pior situação internado em um hospital, ele faleceu de overdose. Foi aí que eu entrei em depressão. Seis anos depois minha mãe perdeu o emprego na loja que ela trabalhava porque descobriram que ela andava roubando, como ela gostava de dar atenção pra sua namorada, me mandou ir trabalhar, naquela época não era tão fácil assim, então tive que me prostituir, enquanto ela se divertia. No meio desse trabalho sujo conheci um garoto, Andrew, 17 anos, largou a escola e começou a morar nas ruas depois que seu pai e sua mãe o largaram, e foram embora pra sabe se lá onde. Eu tava perdidamente apaixonada por ele, mas foi por causa de um amor estúpido que eu dei minha ‘primeira picada’, gostei e continuei, daí em diante tive que me prostituir mais porque eu ainda tinha que levar dinheiro pra casa e comprar, pelo menos, 3 doses por dia, isso foi mudando, o vício aumentou e de três doses por dia aumentaram pra cinco, apanhei ate perder o sentido quando a namorada da minha mãe percebeu, fiquei três semanas no hospital, depois eu fugi, vivia nas ruas com Andrew, ele também se prostituía, mas eram pra bixas, acredite, isso acabava comigo, o medo dele começar a gostar de tudo aquilo, dele acabar tudo comigo, me destruía por dentro. Mas a gente continuava lá, sonhado, fazíamos planos pro nosso casamento, de como séria nosso apartamento, mas tudo isso séria depois que a gente se livrasse do vício. Não foi tão fácil assim. Um certo tempo depois, eu e Andrew fomos presos, cada um pro seu lado. Me levaram pra um orfanato, como eu era de menor, só fazia trabalho comunitário. Lá os garotos abusavam de mim, mesmo com tudo aquilo que acontecia comigo, foi lá que eu encontrei uma amiga de verdade, Alice, ela era um ano mais velha que eu, minha melhor amiga, eu não entendia como que ela conseguia fazer eu me sentir a pessoa mais feliz, fazíamos planos pra quando a gente saísse daquele inferno, não foi como o esperado, ela foi adotada, perdi o contato com ela, o inferno só ia aumentando, então, decidi fugir, voltei a morar nas ruas, mas agora, eu morava sozinha. Acordei em um hospital, minha mãe tava do meu lado segurando minha mão, aí eu lembrei de tudo: eu tinha levado um tiro, fiquei seis meses em coma, voltei a morar com ela, ela fazia de tudo pra reconquistar minha amizade, mas nunca conseguiu, ignorava ela como nunca ignorei alguém, depois de 28 dias morando com ela, ela foi assassinada, voltei a morar nas ruas. Em um desses becos escuros encontrei Andrew, ele me dizia todo alegre que não era mais um viciado, que me ajudaria a sair do vício, mas ele acabou voltando pro fundo do poço junto comigo. Dois anos depois, uns caras pra quem Andrew tava devendo dinheiro, encontrou ele e esfaqueou na minha frente enquanto um cara alto e forte me segurava, eu séria a próxima, mas eu fugi. Fui pra um orfanato e fiquei lá até meus 18 anos, nessa época eu já tinha me livrado do vício, arrumei um emprego e depois fiz uma faculdade, casei e tive um filho, frui traída pelo meu marido quando meu filho tinha 8 anos, separamos. Quando meu filho tinha 16 anos, descobri que ele era gay, ele apanhava tanto na escola que seu rosto ficou deformado, mas os diretores da escola não faziam nada, aliás, ninguém movia um dedo pra resolver aquela situação. Mas ele nunca desistiu, ele nunca se trancou no quarto e se cortou, ele nunca tentou suicídio, ele nunca se drogou, ele nunca tratou ninguém de mal jeito, ele sempre ficou firme e forte, de pé, lutando pela sua liberdade.”

E sabe o que me fazia ainda ficar de pé? Ouvir ele dizendo que eu era o grande orgulho dele. Yasmim (destrutiva)

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